- olha, as pessoas que fodam, que brinquem, que riam, que chorem. mas eu acho mesmo é que elas deviam era beijar mais!
- hum.
- e sabes? eu estou-me a marimbar para se eles beijam 20 pessoas diferentes numa noite, desde que isso não afecte ninguém. as pessoas são 50% livres e têm que estar consciente dessa liberdade, mas a outra metade é importante, porque a minha liberdade não pode nem dever afectar a liberdade dos outros.
- e homossexuais?
- o que tem?
- o que achas?
- aceito. lá está, acho tanta falta de respeito um casal de homossexual se estar a lambuzar à minha frente, quanto um casal de heterossexuais.
- não acredito.
- verdade. é uma questão de libertação da mente e de fugires aos esquemas que te são implementados desde nova e como a tua biologia funciona sobre isso.
- interessante. mas acho que és demasiado revolucionária e contestatária.
- não deves ser a única a dizê-lo e a achá-lo. mas lá está, desde nova obriguei o meu cérebro a ver mais do que o que estava à minha frente. quando era nova espalhava todas as missangas de cores diferentes que tinha e obrigava-me a separá-las, para melhorar a minha concentração e paciência.
- és um bocado doente, não és?
- talvez. tenho noção de que algumas coisas que fiz e faço vão contra as normas e parametros normais. eu gostava de ser boa, ter mamas grandes, ser bonita, parar de usar óculos e mostrar os meus olhos, que são a única parte do corpo de que gosto.
- adoro a tua boca.
- detesto-a.
- és mesmo parva,
- e ingrata, eu sei. "tomara muita gente ser bonita como és!", sim, ouço algumas vezes. e não é que gostasse que toda a gente me venerasse, mas gostava de sentir que não sou mais uma cara banal.
- tu és bonita.
- tu és simpática.
- óh.
- eu gostava de acreditar que foi por ser interessante que os homens que estiveram comigo, gostaram de mim.
- e porque achas que não foi? ou melhor, porque pensas tanto nisso?
- porque tenho a auto-estima baixa e só o digo a ti.
- eu fui gorda toda a minha vida, tu sempre foste magra. achas que és a única que tem complexos?
- nunca estamos bem.
- não, tu nunca estás bem. as pessoas contentam-se. ou acabam por se acomodar.
- lá está, eu não consigo conformar-me com tudo.
- um dia vais ter que o fazer.
- seja. alias, eu acredito que sim, mas acredito que, na minha cabeça, tudo não vai passar de uma jogada para fazer acreditar às pessoas que me acomodo. é confortável termos coisas fixas, é sim, mas ter coisas e pessoas como dados adquiridos dói-me.
- o que é que não te dói?