07/04/10

(orgulhosamente?) sós,

sabes, se estivesses aqui eu sei que ia ouvir muito.
que me iam ferver as orelhas de tanto berrares o quanto sou parva comigo.
que me iam ferver as mãos de me bateres para me impedires de roer as unhas, por estar nervosa. que ias dizer que fico feia quando choro, porque as meninas não choram.
se estivesses ainda por perto, eu tenho a certeza que te ia ouvir mais do que a qualquer pessoa com os melhores conselhos (e elas dão, claro que dão!).
se ainda estivesses por aqui, eu apresentava-te uma pessoa. ias gostar (muito) dela. (assim como eu (tenho medo de) gostar dela).
ela é parecida contigo - faz-me rir, confronta-me com coisas que (tenho medo de admitir que) sou, faz-me sentir bem.
sabes que eu não gostava que fizesses muitos esforços por mim, sentia-me pesada com isso. continuo a mesma. continuo a sentir-me pressionada com o básico, por mais leve que isso seja.
mesmo depois de teres ido, fui eu que pressionei. fui eu que procurei, fui eu que andei atrás.
e agora acontece tudo ao contrário. e é por isso que me lembro e tenho lembrado de ti e da falta que (ainda) me fazes. e é por tudo o que se tem passado nas últimas semanas que ainda me pergunto porque nos deixaste, porque tinhas que ir.
penso que, talvez hoje, me saberias dizer, como tantas outras pessoas, para parar de ser miúda e deixar-me ser feliz.
já passou muito (!) tempo desde as vezes que me pediste para parar de tentar salvar o mundo, para parar de ser tão ingénua. mas eu continuei a tentar. e é por isso que agora acumulei todos os meus cansaços e não sei querer mais nada.
já passou muito (demasiado) tempo desde as vezes que te prometi que ia ser forte, mas não tenho sido. e não quero ficar aqui muito mais tempo. mas sei que também não sei se quero livrar-me de todas coisas que me prendem. porque não quero usar ninguém para isso.

se estivesses aqui contava-te tudo aquilo que fui guardando nestes dias, semanas, meses e anos.
e contava-te o quanto chamar pelo nome dela me faz lembrar do teu.
porque muitas saudades passaram, ainda que eu nunca tivesse aceite que nos deixasses e me continue a perguntar porquê, mas muitas voltaram há semanas (poucas) atrás.
e isso assusta-me, porque até as tuas pessoas quiseram ir para longe de onde estou. e agora já não posso falar de ti com mais ninguém. mas não faz mal. porque, às vezes, parece que falo contigo.

se pudesse escolher, nunca teria escolhido que te fosses (a escolha foi tua, não minha), mas talvez agora não me sentisse tão ligada a ela.
assustadoramente a ela,
a ti através dela
a mim através de ti
ainda que, algumas noites, me deite a pensar no quanto estive(mos) orgulhosamente só(s).


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