27/06/10

para a rua me levar.

estou farta.
já não acho assim tanta piada a isto.
não me apetece falar sobre isto, mas também não me apetece manter isto cá dentro.
afinal ela tinha razão. tinha mesmo razão.
e eu quero achar que isto é só uma fase.
e que agora me canse disto para, mais tarde, voltar àquilo que eu sei que sou e que, para já, quero ser.
estou farta de malas.
de roupa.
de cadernos e pacotes e tralha.
estou farta de ter que arrumar a minha vida sempre em meia dúzia de espaços apertados.
a minha vida é maior que isso!
e eu estou cansada de ter que a arrumar em poucas horas.
e estou a irritar-me com a quantidade de coisas que em meia dúzia de meses consegui encafuar em poucos espaços.
e mais me está a irritar encontrar pormenores, guarda-chuvas e coisas que não me pertencem e nem sei bem ao certo porque (ainda) as tenho.
isto faz-me lembrar há meio ano atrás quando estava a mudar-me de novo.
e nesse dia, nessa manhã.
em que fui má, egoista, irritadiça, infantil.
em que exigi, impus, gritei. e não agradeci.
passou tudo tão rápido.
e estas paredes só viram e sentiram uma vez.
e esta cama só me teve a mim.
e são os mesmos caixotes, as mesmas formas e papéis arrumados.
sinto que estou a largar mais um bocado de mim.
e isso dói-me (outra vez).
não gosto de pensar no que poderia ter acontecido,
não gosto de me sentir pesada quando penso no que este quarto ouviu e pressentiu.
não gosto de pensar que estas gavetas guardaram demasiado de mim e tiveram demasiado de mim.
mais do que eu própria, às vezes acho.
mas ao menos que eu deixe aqui tudo aquilo que não quero levar (outra vez) comigo.
e espero não ter que voltar muitas mais vezes para me confrontar com isso.
gostava que estivesses presente,
gostava que estivesses a ajudar-me a arrumar a minha vida.
como já fizeste. como já a desarrumaste.
gostava que estivesses a fazer parte da minha (nova) mudança (mais uma?).
estou cansada.
e agora, no meio de tanta confusão e papel de jornal, gostava de parar, encostar-me a ti e dizer, finalmente, "obrigada".

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