já sofri corações.
já sofri (a)braços que não tive,
palavras que não pude dar.
já sofri murros, barulhos, gritos.
sofri ainda mais com silêncios.
já sofri muros.
já sofri torpedos, bombas e explosões.
já me afoguei e, muitas vezes, não quis agarrar a minha própria bóia.
já tentei levantar a minha vida empurrando-a para baixo.
anulei-me muitas vezes.
já me obriguei a dizer não para não admitir um sim. porque esse sim me traria tudo de novo.
tentei explicar demasiadas vezes que dizer um não, para mim, me dói mais que um sim.
já me queimei.
já me congelei.
já me mantive apática para não admitir que sofria.
já me mantive calada para não dizer o quanto queria - e muito.
já tentei explicar,
desfiz-me em desculpas (mesmo quando não as tinhas),
explodi em desilusões,
amarrei-me em areias movediças com pensamentos desfocados.
segurei ar onde só havia fogo.
respirei fundo para não destruir lembranças.
sustive a respiração para não lembrar cheiros.
respirei debaixo de água na tentativa de trazer para cima todas as energias do (meu) fundo.
surpreendi-me com forças em momentos escuros.
tentei não desiludir.
desiludi-me ao tentar.
trouxe para casa papéis rabiscados em tardes de sol numa esplanada à espera de coragem para (t)os entregar.
rasguei-os.
entreguei-os em fúria, em tardes de desespero por qualquer palavra - mesmo aquelas que doeram ouvir.
limpei lágrimas a pessoas que não aguentaram ver-me chorar mais.
ri enquanto chorei.
chorei de rir.
lancei piadas para o ar à espera que entendessem que até o mais bonito sorriso esconde uma grande falta.
reli mensagens,
reencaminhei outras.
guardo poucas.
afasto-me dos telemóveis.
organizo e-mails.
já sofri tanto quanto todas as outras pessoas do mundo.
não fui corajosa como a maioria delas.
e a única coragem perde-se dentro de mim quando estou sozinha e aparece em tardes no café com amigos.
não interessam luzes, pontes bonitas, cantos para dois, jantares inesperados, beijos às escuras de uma sala de cinema vazia em sessões tardias.
sofri por antecipação.
sofri por passados.
sofro quando estou deitada.
até lá o telemóvel fica na gaveta,
o computador desligado,
evito dar demasiada atenção a pensamentos nostálgicos, mesmo que façam parte do meu dia.
imploro actividade para o meu cérebro - estimulem-me!
sofri quando me reprimi.
quando deixei que me reprimissem.
sofri até quando reprimi coisas que, hoje, nem sequer fariam sentido existirem por si mesmos.
mas cães ladram e as caravanas continuam.
alguém disse que era tempo de paragens?
coração e espírito tranquilos.
atitude.
unhas por roer, estou de parabéns. haja verniz para disfarçar!
sofri por ter dois mundos - o meu com ele e o meu com todas as outras pessoas.
sofro ainda por eles (ainda) colidirem.
sofri quando ouvi "I crash in the night, two worlds collide. But when two worlds collide no one survives, no one survives" .
sofro aos bocados.
sofro quando me quero soltar.
quando entendo que ambos sobrevivemos. não sei se só por sermos fortes, mas porque ninguém morre de colisões amorosas.
amor não pode matar, só pessoas.
o nosso, matamo-lo os dois.
sofri quando não quis admitir que as mortes e colisões acontecem.
agora continuo a não aceitar, continua a doer.
mas sofro menos se não falar sobre isso.
sofri quando pensei que não fosse boa pessoa.
quando não me senti bonita.
quando não me senti suficiente e, ao mesmo tempo, quando me senti a mais.
agora que sou muito comigo e para mim e nada contigo e para ti,
não me culpo mais.
se ambos pagámos o que tínhamos a pagar,
se ambos fizemos o que soubemos e pudemos
não posso continuar a pedir
a implorar
a sofrer.
é inevitável que o teu mundo esteja lá
que o meu ainda trema com ele.
mas se só te sentes bem sem mim, força.
não vou procurar nada nem ninguém,
muito menos para substituir seja o que for.
substituições só se fossem passados por futuros
e os teus silêncios pelas tuas palavras.
e os únicos vazios que tenho só são ocupados com mais vazios que deixas.
um dia eles enchem.
mesmo que já não gostes,
já não te atraia,
já não te interesse,
já não sintas falta
também dispenso falsidades - não te desejo mal, mas também não te vou desejar bem com ninguém.
porque "a gente não sabe a sinceridade dessas porcarias".
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