15/07/10

o cliché do ódio.

não sou de odiar - gostava muito, mas não consigo.
posso usar a expressão "odeio" mas, no fundo, não odeio. é só para mostrar a minha raiva que (já) não sei descrever de outra forma.
afinal de contas, dói sempre muito mais do que se aparenta e eu sou difícil de explicar (os meus) sentimentos.

não tenho ódios de estimação nem sequer sei qual é a coisa que menos gosto (ou poderia vir a odiar).
sei que não gosto de muitas coisas mas, no fundo, no fundo, eu não sei o que odeio.
(excluindo todas as atrocidades contra animais, crianças, guerras e etc's. isso, aqui, está fora de questão - um dos assuntos que dói mais do que alguma vez conseguirei explicar.)

mas hoje descobri que:
- odeio que me reprimam o riso.
- que não entendam as minhas piadas e as achem demasiado estúpidas.
- que simplesmente não se riam com nada! e quando se riem dura pouco.
- irrita-me que as pessoas, pelo menos isso!, não aparentem serem felizes e qualquer pessoa que se aproxime com a mínima tentativa de olhem, eu estou super na merda, prestes a desabar já aqui, mas ESTOU-ME A RIR! é logo apedrajada com os olhos ou punida com olhares!
- magoa-me, até, isso. é por isso que, cada vez mais, me farto da mente tacanha e rude da maioria dos portugueses - foda-se, RIAM! façam sexo! riam enquanto fazem sexo! façam sexo enquanto riem! aprendam a ser felizes. ou pelo menos TENTEM!

- irrita-me ser a única pessoa que, num grupo, se mostra mais feliz, é conhecida como a que ri muito e alto, a que faz muitas piadas, uma mulher forte e corajosa. e quando sozinha me sinto das pessoas mais fracas e incapazes de aproveitar seja o que for.
- irrita-me ter que defender uma pessoa que já não gosta de mim! defender tudo o que ele faz, o que ele diz! defender até as coisas que mais me magoam. defender que aquilo que ele ouve é óptimo, mesmo quando lhe disse algumas vezes que me irritava. (mas que já nao irritam assim tanto. às vezes dou por mim a gostar.)
- irrita-me este esforço todo que ando a fazer para parecer bem. para estar bem!
- irrita-me que eu esteja até a defender um festival que eu morria de vontade de ir ver (com ele) e que me mata pensar que há um ano atrás fui, adorei a companhia, o ambiente, a massa japonesa e até tirar finos enquanto estavam os concertos a decorrer.
- irrita-me pensar que, mais uma vez, Agosto se aproxima e eu vou pensar que quero voltar a passar mais uns dias com ele numa casa com piscina, de manhã à noite. fazer o jantar com ele, passear à noite. (sim, hoje não me chatearia se ficassemos uma noite em casa. acredita.)
- irrita-me até entrar em discussões sobre viagens que, não tão no fundo!, estou morta de medo de fazer! que lhe são indiferentes se vou ou não. e talvez ainda bem. porque tenho a certeza que eu só não ia largar tudo, porque ela vai comigo. porque bastava, neste momento, ele dizer-me que queria ficar comigo que eu, irremediavelmente burra neste aspecto, ponderaria até ao miolo não ir!
- irrita-me falar nessas mesmas viagens e pensar "ia ser tão bonito um amor assim, com ele comigo". podia morrer de saudades (e vou), mas ia-me dar mesmo força pô-lo a par de todas as novidades, de todas as curvas de ruas que gostava de passear com ele. mas não, porque,
- me irrita que estar lá ou não estar lhe é indiferente e ele até prefere que nem diga nada.
- irrita-me pensar que as pessoas se matam assim, em silêncios.
- irrita-me que as coisas morram, assim do nada.
- irrita-me que não consiga acordar e dizer "chega"! e chega, ponto, acabou.
- irrita-me esperar que esse dia chegue.
- irrita-me imaginar as rotinas dele.
- irrita-me preocupar-me com ele.
- irrita-me eu ainda querer saber dele.
- irrita-me até que eu ainda fale dele aos meus amigos.
- irrita-me que os amigos dele ainda falem dele como se nada fosse, sem saberem que, na verdade, já nada é mas que ainda me dói.
- irrita-me sorrir e mudar de assunto.
- irrita-me não conseguir odiá-lo.

há muitas mais coisas que me irritam mas que sei que, mesmo que as odiasse, não iria conseguir dormir melhor.

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