não digo meias coisas, ainda que tente aceitar totais silêncios.
tenho livros empilhados com palavras que ainda não li.
música encafuada em gavetas digitais que tenho medo de relembrar.
não tenho feitiços nem malas de truques.
não tenho cola nem adesivos anti-quebra.
não tenho formas de dar por metade e é por isso que desejo por inteiro.
gosto de noites e beijos quentes, força nos abraços e sussurro nas palavras.
obrigo-me a não estar sozinha e agradeço às pessoas que me impedem as muralhas que durante tanto tempo ergui à minha volta. não porque não queria que ninguém entrasse, mas porque não tinha coragem para sair.
não geri a desilusão de forma racional. tentei sempre compreender motivos bonitos e nobres por detrás de palavras más.
escutei até ao fim quando devia ter virado costas e virei costas quando deveria ter ouvido tudo, mesmo que fossem desculpas esfarrapadas e reviradas no caixão.
disse verdades em troca de mentiras bonitas, menti como teste às verdades que já não conseguia acreditar.
testei demasiadas vezes.
não soube como parar.
parei demasiado no tempo.
andei mais do que podia para tropeçar e recuar mais do que tinha andado.
corri para demasiado longe com medo de estar demasiado perto.
não soube lidar com a desilusão.
não soube fazer perguntas em momentos de dúvida.
supus mais do que o coração aguenta.
o coração susteve a respiração demasiadas vezes e nem assim parou de sentir o cheiro a dor.
pensei pior de mim do que realmente era.
fui melhor do que as minhas mãos deixavam.
arranquei pedaços para me sentir mais leve e até na dor me sentia obesa.
pesei pouco as qualidades e agarrei mais as dores mais pesadas.
perdi inocência e memória pelo caminho, ganhei dores no corpo e até um cabelo branco.
exigi demais de mim e do meu corpo. quis demasiado o teu.
não tenho esquemas nem palavras calculadas, não tenho manhas nem astúcia para o amor que sinto.
tenho mãos abertas, braços que não cruzam ainda que esperem, pernas cansadas mas dispostas a voltar a correr o que for preciso por um bom momento.
tenho um coração difícil de apaixonar e ainda mais casmurro e de mau feitio quando é para esquecer. mas é grande e disposto a loucuras.
tenho um peito que não abafa, mas segura. que não atrai, mas que convence. não chama a atenção mas também não a expulsa.
tenho uma boca pequena para tudo aquilo que quero dizer, que se habituou a não dizer palavras bonitas com medo que os ouvidos não escutassem resposta de volta.
e esses ouvidos já estão surdos.
secaram de ausências e silêncios. já só servem para puxões de orelhas de pessoas que não só dão as mãos como todo um corpo para apoio.
esses ouvidos que não emprenham com palavras soltas, mas que se apaixonam facilmente pelos (teus) suspiros e beijos.
aqueles que o pescoço já não aguenta de saudades,
aqueles que o corpo já não consegue não encolher ao pensar.
e aqueles que morrem afogados nas lágrimas de memórias.
os perfumes acabam antes de poder fazer-te cheirá-los de novo.
unhas partem antes de poder cravá-las nas (tuas) costas.
e agora, mesmo que algumas coisas estejam frescas, não adianta agarrar-me a elas.
porque afinal de contas não é só ao meu lado que te deitas,
não é só a mim que beijas
e não sou só eu que tem um nome que te faz tremer.
e o nojo e a desilusão são tão grandes que só me vem tudo de novo à cabeça.
que afasto tudo o que podia ter sido bonito.
em que tento apagar da cabeça que ouvi coisas que não pensaria ouvir de novo. que tento tirar de mim o cheiro do corpo e o húmido dos teus olhos.
não sei se me sinta traída ou se deva agradecer a sinceridade tardia.
e não sei gerir outra facada em golpe aberto.
não sei se espere que sare ou se ande para a frente a jorrar raiva por tudo que é centímetro de pele.
não sei se chore ou se engula.
não sei se apoie se mande à merda.
não sei se cale ou se grite.
a única coisa que sei é que tudo se mantém na mesma lentidão de silêncios, enquanto o meu cérebro dispara em tudo que é canto. e eu não sei dar-lhe paz.
Já percebi que gosta de Ana Carolina, e pelo menos aqui no Brasil a música dela de momento é essa: http://letras.terra.com.br/ana-carolina/1590755/
ResponderEliminartake a look ;)
Um dia ele vai entrar no MSN e tu não vais sentir o estômago a encolher-se dentro de ti. Esse dia vai chegar. Força, paciência, fé *
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