may be. (let it be).

não é o fim do mundo. posso fazer parecer, mas não é.
não vou morrer.
ninguém vai morrer.
não é preciso sofrer com decisões. elas só servem para nos fazer melhor do que estavamos antes. (certo?)
ninguém vai parar ao hospital, nem com doenças graves, nem acidentes, nem simples arranhões.
ninguém vai ficar de cama constipado porque está um frio de rachar e ainda se acha que está no verão.
não se vai fumar nem beber até cair como se não houvesse amanhã, porque amanhã chega e traz sempre coisas novas. certo?
ninguém vai embora para sempre, ninguém vai desistir de procurar ninguém, ninguém vai afastar-se só porque alguém está mais calado.
ninguém vai sofrer por antecipação.
ninguém vai deixar de gostar.
nem gostar menos.
ninguém vai chorar baba e ranho de saudades por um abraço.
vocês vão-se divertir, mas não demasiado para eu não sofrer com o que estou a perder. (certo?)
ninguém vai contrariar que as coisas mudam e as pessoas também, mas também ninguém vai ser a favor de mudar o que se tem de bom.
ninguém vai ficar demasiado preocupado para deixar de dizer palavras bonitas como "tenho saudades tuas" ou "gosto de ti", com medo de fazer doer. certo?
qualquer silêncio mata mais do que palavras verdadeiras.
façam mais tatuagens, conheçam mais bandas novas, racionalizem mais a vida ou emocionem-se demasiado com ela.
seja o que for, não é o fim do mundo.
porque o mundo não pára e as pessoas também não.
mas não julguem quem faz parar o seu para olhar as coisas de outra forma.
não olhem as coisas de outra forma sem saberem explicar porquê.
há vezes em que o "só porque sim" só fica bonito em filmes românticos de domingo à tarde.
não acreditem que gostar é desculpa para tudo - não é porque se diz "gosto de ti" que seja justificação para a merda que se faz e não é so porque se "gosta de ti" que se admita toda a merda.
a merda faz parte.
mas tenho ouvido muitas vezes que nem sempre precisamos de nos atirar de um abismo para saber que vai correr mal. a não ser que, por estupidez, se ache que existem almofadas e colchões no fim.
saibam fechar portas. saibam abrir outras.
saibam ouvir mais do que falar.
argumentar é bom e útil mas é por algum motivo que temos mais orelhas do que boca.
façam elogios.
aprendam a aceitá-los.
façam críticas e aprendam a aceitá-las.
é bom ter alguém que nos tire o pé do chão, mas alguém suficientemente melhor para, nas alturas certas, nos faça voltar.
é bom ver tudo de perspectivas diferentes.
mas ter cuidado com a compreensão em demasia, às vezes faz-nos ser contraditórios.
não precisamos de justificar tudo aquilo que somos e fazemos, há coisas que são nossas e para nós, mas nada nos pode fazer perder o respeito por alguém.
peçam ajuda.
saibam ajudar.
ninguém veio para ficar, é certo, mas não estou a falar do fim do mundo.
porque não é o fim do mundo.
tentem até não dar mais.
ninguém vai ficar suficientemente feliz se não tiver um pouco de suor.
mas não de sangue. é bom pôr muito de nós nas coisas e nas pessoas, mas não a vida.
essa é nossa e maltratá-la é ofender quem gosta e cuida dela também.
disseram-me que salvei uma vida.
valeu-me por todas aquelas que perdi.
questionem até ter respostas, mas as verdadeiras, não as que queremos ouvir.
demagogia não é felicidade.
porque omissão (também) é mentira.
não faz mal que não esteja tudo bem, mas faz mal quando não fazemos por estar.
não faz mal que esteja tudo bem, porque não faz mal admitir que se fez por estar.
não faz mal gostar de ninguém, mas faz mal suficiente deixar que se goste menos de nós.
ninguém vai gostar mais nem menos de ninguém,
ninguém vai dizer desculpa mais ou menos vezes,
ninguém vai procurar mais vezes,
ninguém vai ter explosões de felicidade ou arrependimento,
mas só porque não é o fim do mundo.
seja como for,
meter a vida em duas malas não é o fim do mundo,
só pode ser o começo de muitos outros,
mas não é mais fácil por isso.
eu não vou a lado nenhum.
porque ninguém vai a lado nenhum.
e se forem, que eu vá também.
mesmo que seja para o fim do mundo.