14/10/10

the rise of darkness in a park with a silver bride drinking horchata.

doem-me as pernas de correr.
o parque é enorme e, mesmo assim, me sinto a andar no mesmo sítio.
até o passo maior, o vento mais forte e a música mais pesada (a batida dá power para manter o ritmo e nem há espaço nem força para pensar muito!) me fazem sentir que não consigo correr mais depressa, apesar de saber que consigo. posso abusar, mas vá, hoje não me apetece.
corro até à exaustão, só assim me sinto ocupada.
durante mais de meia hora não desisto.
olho em frente, respiro e às vezes esqueço-me disso e canto.
sei que estou cansada mas não consigo parar.
sinto o vento gelado na cara, mas não sei parar. não quero.
só páro quando sinto que são horas de voltar.
não porque ele me espera, mas porque tenho quem me espere.
o resultado de guardar todos os pensamentos para os largar correndo é ter que parar durante uns dois dias, até os músculos me poderem deixar libertar as correrias da minha cabeça de novo.
até lá fazem-se esforços para não roer as unhas que não partem.
são muitas ideias no mesmo espaço, fica complicado de ajustar medidas e balanços.
e, portanto, corro.
e ouço música para não perder o ritmo.
quando as palavras estão gastas, mesmo que sejam só connosco, a solução é correr.
defino destinos e metas pelo caminho.
escolho velocidades e ritmos de acordo com a força dos meus pensamentos e da ferocidade com que quero que saiam, e, por isso, não dependem da força das minhas pernas.
deixo-me ficar despenteada, vermelha, a destilar.
a música, depois de mudar a cada dois minutos já só serve para me acompanhar e num momento, para mim, tão introspectivo, também é preciso a música nada-a-ver.
só para que o ritmo, agora que as pernas falham, não me deixe perder, por entre folhas castanhas a cairem no chão, todo o vigor de uma corrida que, em pouco mais de trinta minutos, me fez desaparecer da (minha) vida por quase uma eternidade.

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