28/10/10

o peso do mundo.

digam-me do que agora sabem, do que agora guardas para ti, do que ela já aprendeu a partilhar.
fala-me sobre coisas terríveis, doentias, medonhas.
do que te arrepia, do que te faz frio na barriga.
do que gostas agora.
do que agora queres ouvir, do que não suportas.
fala-me de palavras más, do que elas dão e retiram de corações cansados de esperar.
diz-me o que achas da distância.
fala-me de manobras perigosas, de fogos e ventos tempestuosos, de chuvas que ardem depois de cortes de papel das cartas que não recebo.
conta-me das planícies e montanhas que já viste. do que elas te souberam dizer e que a mim não são capaz de suspirar, de tão longe que já me sento.
há mar para além do que os meus olhos vêem?
sabes se há olhos que me sabem falar que há vidas para além das mortes?
diz-me que os bosques que percorro são para me encontrar e não para fugir, (porque) mesmo correndo tenho a sensação de que o mundo é mais leve do que eu pe(n)so.
não estou a perguntar-te como se largam passados para agarrar presentes.
as respostas são simples.
arranjam-se novos estados de sítio de coração, novos calores colados em lençóis, novos filmes e músicas, novas conversas.
a grande diferença nos amores é que há sempre quem opte pela primeira parte da frase e a outra se force a ficar com o resto.
é assim que amores morrem.
mas fala-me.
como é o novo amor?
fala-me de como se transformam lâminas em abraços de noites geladas.
como o vento consegue mudar de direcção antes de termos começado a andar.
e como o sol, todo o sol do mundo, consegue agarrar-nos e dizer que ele, um dia, pode não voltar.
diz-me como buzinam agora os carros à entrada de portas vermelhas.
diz-me como aplaudem agora as mãos que esfaquearam as almofadas onde nos deitamos tantas vezes.
se a brisa vem, que leve tudo a seguir.
fala-me do teu riso, do que te tem feito rir.
eu digo-te o quanto há sorrisos que me fazem falta,
palavras que rebentam com qualquer estomago e
que martelam qualquer pensamento.
do quanto seguram, as mãos, a cabeça num fim de noite.
se soubesse explicar o quanto o fim dos dias me transporta para o medo de não acordar amanhã.
tenho medo de morrer.
não há nada. entendes? não há nada depois.
e tu continuas aí. em vida medianamenta tranquila.
se eu não compreendesse que a felicidade é parte de idiotice, eu perguntava-te se és feliz.
mas compreender não é aceitar.
e eu pergunto o que te faz feliz.
e eu sei que não é o amor.
se fosse, não havia amor afogado em aquários de corações que desconheces.
mas fala-me mais sobre pesca.
sabes criar fortunas ou apenas resgatar tesouros escondidos?
se as coisas acabam, porque é que ainda estamos aqui?
basta apenas um ponto e o peso do mundo acaba.
é isso?

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