16/06/09

atrás de mim estão papéis.
recortes de momentos da (minha) vida.
pedaços de coisas e sítios onde estive, que me dizem muito. que (também já te) disseram algo.
pedi-te para me segurares com amor, com atenção, no mesmo dia em que te foste.
sabia que, no fundo, não te devia ter dado isso. esse papel que tenho igual nessa mesma parede atrás de mim.
esse espaço tem dúvidas, esquemas, medos.
tem defuntos que, já não sei como, não me atormentam tanto quando me deito na cama onde, por acaso, também já estiveste deitado.
onde deixaste as tuas marcas.
onde, sempre que faço a minha cama, me lembro de ti. porque foi nela que me tatuaste.
mas sim, estou prestes a dar isso como memória, como nada importante agora (tem de ser).
porque sei que não pensas em mim de cada vez que te deitas. que os teus espaços não te fazem associar a nada meu.
que, por isso, eu também me tenho que livrar dessas associações. tal como tu. tal como de ti.


e atrás de mim vêm coisas e pessoas que me olham e seguram. que não és tu, eu sei, mas que sabem de ti e da falta que já me fizeste. talvez agora seja eu (e pouco mais) quem saiba realmente que me fazes falta, sim. que penso muitas vezes em ti, é certo, mas agora me obrigo a olhar para a parede e me sentir livre.
de me sentir livre para me dizer que ainda bem.
que foi bom.
que acabou.
que não vem.
nem volta.


que é isso mesmo: foi.
e que agora é a minha parede, colada à minha cama, que me diz, todos os dias, o que me ficou atrás das costas.

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