25/08/10

a raiva.

primeiro vêm os comos e os porquês, mata-se e desgasta-se a tentar perceber tudo e no esforço de não ser aquilo que não quer ser, mas que, inevitavelmente, vai sê-lo. mesmo que por pouco tempo. faz parte.

depois vem a melancolia, a saudade, o agarrar de coisas bonitas que já não existem. vêm as lágrimas, as chamadas a altas horas da noite só para ouvir uma voz que já é de frete e aversão.
vêm as bofetadas na cara de palavras que não chegam. esta é uma fase mais longa, porque ainda traz algo da fase anterior e é por isso que demora a passar. fica difícil de organizar tudo na cabeça e no coração.

e a seguir vem a fase da revolta, da raiva, da aversão, do nojo, dos pensamentos maus e sem culpa. vem a fase do foda-se, desaparece!, do que nos faz mover mais rápido.

sempre achei que só havia duas coisas que nos movesse: o amor e o medo.
ainda estou em fase de negação, ainda acho que a revolta ainda se encontra em ambos, mas a verdade é que ela move e faz passar os dias.
não quero que passe a fazer parte deles, mas numa fase inicial é necessário.

assim como é necessário, muitas vezes, mentir-nos com verdades.
dizer-nos todos os dias o quanto somos lindos e maravilhosos e cheios de coisas boas e bonitas para dar, mesmo que cá dentro só haja rancor e medo e vontade de explodir.
um dia, com o tempo e porque quero acreditar, passamos a acreditar nessas mentiras.
não que o medo se vá, mas que, pelo menos, as coisas boas fiquem e passem a ser aquilo que, não tão no fundo, somos.

depois da fase da raiva e da culpa e do ódio há que existir paz. não é apatia, é paz. tranquilidade.
até lá, que se expludam os mundos todos, que se evaporem as lágrimas todas, que se roam todas as unhas que há para roer e que se belisquem todos os corpos para esquecer dores.
não importa. o que importa é superar. o tempo que for. a forma que for.

eu optei pela raiva numa fase inicial. não me vou culpar, muito menos me sentir má pessoa porque não sei superar a desejar bem a quem me fez mal. isto passa.
até porque a raiva é comigo, não é com mais ninguém.
nem no cúmulo da minha raiva eu afectaria tudo o resto.
sei mais de auto-destruição do que saber fazer sofrer alguém.

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