e nada espero que me digas da minha raiva. nem da tua .
nada espero que a apague.
não espero que sejas tu a fazê-lo.
somos demasiado parecidos para nos protegermos.
somos demasiado doridos para que o tempo nos ajude.
demasiado feridos para que algum dos dois nos cure.
demasiado afastados para nos juntarmos.
demasiado teimosos para nos querermos.
demasiado frágeis para avançarmos.
demasiado silenciosos para resolver (juntos) as nossas dores.
não somos assim tão diferentes.
a única diferença é que sou menos capaz de mostrar realmente quem sou.
a única diferença é que rio por tudo e por nada, para não explicar a ninguém que é a mim que me dói o (meu próprio) silêncio, porque me lembra o teu.
e a diferença entre nós é só os espaços de que não falamos, porque seriam tão grandes que nem o silêncio seria capaz de os preencher e unir.
o que nos separa são os novos quereres para ocupar espaços velhos. os novos vazios e faltas para nos fazer lembrar das que tivemos.
o que nos separa são as dores que ambos tivemos (em separado) e nos relembraram quando estivemos juntos.
e que agora a mim, mais do que a ti, me custa a sarar mais que qualquer outra dor de tão funda que foi.
e ainda hoje, que me dá raiva do que somos todos, penso naquilo que me poderias dizer sobre as tuas raivas e medos.
e ainda hoje, como desde o fim das coisas, penso se algum dia compreenderás que somos tão iguais que as tuas dores são tão minhas como tuas.
e que nenhum dos dois, nem mesmo na sua raiva em dias como hoje, será capaz de falar sobre ela.
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